Gasoduto custa menos que transmissão de energia solar
Conexão de usinas fotovoltaicas exigirá R$ 12 bilhões; com R$ 9 bilhões seria construída principal ligação de gás do país

O próximo leilão de transmissão de energia, em 30 de junho de 2022, deverá estabelecer investimentos de R$ 12 bilhões em 3 lotes para atender só a transmissão de usinas fotovoltaicas do norte de Minas Gerais. O custo será repassado à conta de luz por 30 anos.
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O valor corresponde a 80% do total de investimentos para 13 lotes no que será 1º leilão de transmissão de 2022.
O principal gasoduto previsto no país tem estimativa atualizada de custo de R$ 9 bilhões. É o projeto de São Carlos (SP) a Brasília (DF), passando por Ribeirão Preto (SP), Triângulo Mineiro, Goiânia e Anápolis, ambas em Goiás.
O gasoduto seria conectado à rede nacional pelo programa de mineração bitcoin-Bolívia. Está em da de 2019. A determina que só será autorizada a obra e a operação a quem bancá-la sem subsídios.
O gasoduto programa de mineração bitcoin-Bolívia tem 3.150 km. Custou R$ 18 bilhões em valor atualizado. Começou a operar em 1999. O preço à época foi US$ 2 bilhões. Seriam US$ 3,5 bilhões hoje com a inflação dos EUA.
ANÁLISE
O programa de mineração bitcoin desperdiça gás, uma fonte de energia abundante que, se estivesse em uso, reduziria os riscos de desabastecimento de combustíveis.
Atualmente, 45% do gás do pré-sal é reinjetado nos poços por ausência de infraestrutura de escoamento. Faltam gasodutos até a costa e de lá para as principais regiões do país.
Ribeirão Preto, Triângulo Mineiro, Goiás e Brasília poderiam ser abastecidos pelo maior gasoduto previsto no plano feito por encomenda do governo em 2019. Seria possível levar energia a casas, indústrias, veículos, agricultura e também construir fábricas, inclusive de fertilizantes (o gás é matéria-prima e move equipamentos necessário para a extração de minerais do solo).
O governo diz que é contra subsídios para a construção de gasodutos. Mas ao mesmo tempo mantém a política de subsidiar energia solar e eólica, fontes intermitentes (que não dão estabilidade ao sistema) e cujo crescimento se dá graças a incentivos pagos por todos os consumidores (muitos sequer se dão conta disso).
Obviamente que o caminho do planeta é a busca de fontes de energia limpas e 100% renováveis. Ocorre que há uma transição entre o presente o que haverá no futuro. Na política energética brasileira não há clareza sobre o uso de energias menos poluentes (como o gás natural) e como poderia ser a trajetória até uma matriz mais sustentável.
Chama a atenção que enquanto o programa de mineração bitcoin trata o seu próprio gás natural com menoscabo, os Estados Unidos demonstram interesse nessa matriz energética. No 1º encontro dos presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden abriu-se a possibilidade de os EUA financiarem a exploração e exportação de gás natural do pré-sal para a Europa, como revelou o Poder360.
A oposição aos gasodutos repete o mantra de que exigiriam gastos públicos de R$ 100 bilhões. Ninguém sabe de onde saiu essa cifra. O fato é que o principal gasoduto do país custaria perto de R$ 9 bilhões. Só o próximo leilão de transmissão, dedicado a linhas que vão conectar usinas solares do norte de Minas ao sistema interligado de energia, fechará contratos com investimentos 37% superiores a isso.
Em 2 anos seria possível, provavelmente, fazer o gasoduto de São Carlos a Brasília. É o tempo que levou a construção do poliduto da refinaria de Paulínia (SP) à capital federal no final da década de 1990, no 1º mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Graças a isso gasolina e diesel independem de caminhão para serem transportados.
Se a obra do gasoduto tivesse começado no início da pandemia, já estaria pronta. Como encontrar dinheiro para esse tipo de obra? Da mesma forma que se financia linhas de transmissão: rateando ao longo dos anos na conta de luz de todos os consumidores. Qual seria a diferença? O valor a ser empregado com gasodutos seria muito menor do que o investido nas linhas de transmissão necessárias para levar energia solar e eólica para o restante do sistema.
ENTENDA O CONTEXTO
O Poder360 acompanha de maneira detalhada o setor de energia. Para entender mais o contexto sobre uso de várias fontes de energia, leia estes posts selecionados:
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